terça-feira, 19 de abril de 2011

地震 - Update 15

Sacramento - 20 de Abril de 2011 - 12:57AM

Ontem recebi um e-mail do meu departamento confirmando a minha passagem de volta para o dia 25. O Ministério da Educação resolveu pagar a passagem de volta para os bolsistas que voltaram para o país de origem depois do terremoto do dia 11 de Março. Infelizmente não pude cancelar minha outra passagem, que foi para ontem, ou pedir o reembolsa dela. Mas o bom é que poderei ficar mais um pouco por aqui!
Embarcando no fim da tarde do dia 25, chegarei em Tóquio pela manhã do dia 27. Assim, espero estar de volta em Sendai até o fim da tarde do dia 27, o que será suficiente para eu pagar o aluguel e poder assinar para receber a bolsa de Abril!

Para o post não ficar tão pequeno, publico um texto bem bacana que recebi por e-mail. Espero que gostem!

"Quando voltei ao Brasil, depois de residir doze anos no Japão, me incumbi da difícil missão de transmitir o que mais me impressionou do povo Japonês: kokoro.
Kokoro ou Shin significa coração-mente-essência.
Como educar pessoas a ter sensibilidade suficiente para sair de si mesmas, de suas necessidades pessoais e colocar-se à serviço e disposição do grupo, das outras pessoas, da natureza ilimitada?
Outra palavra é gaman: aguentar, suportar.
Educação para ser capaz de suportar dificuldades e superá-las.
Assim, os eventos de 11 de março, no Nordeste japonês, surpreenderam o mundo de duas maneiras.
A primeira pela violência do tsunami e dos vários terremotos, bem como dos perigos de radiação das usinas nucleares de Fukushima.
A segunda pela disciplina, ordem, dignidade, paciência, honra e respeito de todas as vítimas.
Filas de pessoas passando baldes cheios e vazios, de uma piscina para os banheiros.
Nos abrigos, a surpresa das repórteres norte americanas: ninguém queria tirar vantagem sobre ninguém.
Compartilhavam cobertas, alimentos, dores, saudades, preocupações, massagens.
Cada qual se mantinha em sua área. As crianças não faziam algazarra, não corriam e gritavam, mas se mantinham no espaço que a família havia reservado.
Não furaram as filas para assistência médica. Quantas pessoas necessitando de remédios perdidos, mas esperaram sua vez também para receber água, usar o telefone, receber atenção médica, alimentos, roupas e escalda pés singelos, com pouquíssima água.
Compartilharam também do resfriado, da falta de água para higiene pessoal e coletiva, da fome, da tristeza, da dor, das perdas de verduras, leite, da morte.
Nos supermercados lotados e esvaziados de alimentos, não houve saques.
Houve a resignação da tragédia e o agradecimento pelo pouco que recebiam.
Ensinamento de Buda, hoje enraizado na cultura e chamado de kansha no kokoro: coração de gratidão.
Sumimasen é outra palavra chave. Desculpe, sinto muito, com licença. Por vezes me parecia que as pessoas pediam desculpas por viver. Desculpe causar preocupação, desculpe incomodar, desculpe precisar falar com você, ou tocar à sua porta.
Desculpe pela minha dor, pelo minhas lágrimas, pela minha passagem, pela preocupação que estamos causando ao mundo. Sumimasem.
Quando temos humildade e respeito pensamos nos outros, nos seus sentimentos, necessidades.
Quando cuidamos da vida como um todo, somos cuidadas e respeitadas.
O inverso não é verdadeiro: se pensar primeiro em mim e só cuidar de mim, perderei.
Cada um de nós, cada uma de nós é o todo manifesto.
Acompanhando as transmissões na TV e na Internet pude pressentir a atenção e cuidado com quem estaria assistindo: mostrar a realidade, sem ofender, sem estarrecer, sem causar pânico.
As vítimas encontradas, vivas ou mortas eram gentilmente cobertas pelos grupos de resgate e delicadamente transportadas quer para as tendas do exército, que serviam de hospital, quer para as ambulâncias, helicópteros, barcos, que os levariam a hospitais.
Análise da situação por especialistas, informações incessantes a toda população pelos oficiais do governo e a noção bem estabelecida de que somos um só povo e um só país.
Telefonei várias vezes aos templos por onde passei e recebi telefonemas. Diziam-me do exagero das notícias internacionais, da confiança nas soluções que seriam encontradas e todos me pediram que não cancelasse nossa viagem em Julho próximo.
Aprendemos com essa tragédia o que Buda ensinou há dois mil e quinhentos anos:
a vida é transitória, nada é seguro neste mundo, tudo pode ser destruído em um instante e reconstruído novamente.
Reafirmando a Lei da Causalidade podemos perceber como tudo está interligado e que nós humanos não somos e jamais seremos capazes de salvar a Terra. O planeta tem seu próprio movimento e vida. Estamos na superfície, na casquinha mais fina. Os movimentos das placas tectônicas não tem a ver com sentimentos humanos, com divindades, vinganças ou castigos. O que podemos fazer é cuidar da pequena camada produtiva, da água, do solo e do ar que respiramos. E isso já é uma tarefa e tanto.
Aprendemos com o povo japonês que a solidariedade leva à ordem, que a paciência leva à tranquilidade e que o sofrimento compartilhado leva à reconstrução.

Esse exemplo de solidariedade, de bravura, dignidade, de humildade, de respeito aos vivos e aos mortos ficará impresso em todos que acompanharam os eventos que se seguiram a 11 de março.
Minhas preces, meus respeitos, minha ternura e minha imensa tristeza em testemunhar tanto sofrimento e tanta dor de um povo que aprendi a amar e respeitar.
Havia pessoas suas conhecidas na tragédia?, me perguntaram. E só posso dizer : todas.
Todas eram e são pessoas de meu conhecimento.
Com elas aprendi a orar, a ter fé, paciência, persistência.
Aprendi a respeitar meus ancestrais e a linhagem de Budas.
Mãos em prece (gassho)."

Monja Coen

domingo, 17 de abril de 2011

地震 - Update 14

Sacramento - 17 de Abril de 2011 - 22:11

É... Sei lá, mas esse esquema de blog não é muito comigo mesmo! Lá vai mais quase um mês sem atualizações... Bom, mas tenho um bom motivo agora, estou no Brasil desde o dia 31 de Março e pude rever muitas pessoas queridas entre amigos e familiares! Uma pena ter passado tão rápido e a já estar em tempo de voltar. Mas a vida continua, muito obrigado mesmo pelo tempo agradável que estou tendo!

Sobre Sendai, quando saí de lá, praticamente estava tudo normal! O supermercado 24h perto de casa já estava funcionando e se podia. Só faltava gás no meu apartamento. Porém, recebi a notícia do amigo com quem divido o lugar e já temos gás! A vida noturna em Sendai também já está na normalidade, já que no último sábado de noite, já ouvi que as baladinhas estavam funcionando.

O que não consegui encontrar por lá, foi algum centro para receber voluntários. Acho que ainda estavam tentando voltar a vida normal lá, para assim ter como ajudar os outros. Bom, espero encontrar algo quando eu voltar. Até lá, antes de vir, doei uma pequena quantia para ajudar, pena que não pude doar muito...

Enfim, finalmente coloquei as fotos no álbum do Picasa e vocês podem conferir clicando aqui. Lá, vocês verão algumas fotos mostrando fatos que já citei aqui em posts anteriores.

Por fim, gostaria de usar este espaço também para divulgar as palestras sobre a bolsa de estudos que o Ministério da Educação Japonês está oferecendo para o ano que vêm. Ela é voltada para quem já terminou ou vai terminar até Julho de 2012 a graduação, por ser uma bolsa pesquisa. Ela é a bolsa que estou recebendo e qualquer dúvida que tiverem, podem entrar em contato que ajudo no que for possível! Confiram clicando aqui.